“A vassalagem é uma doença que surgiu no Brasil colonial e atravessou os séculos impávida, geração após geração, desafiando vacinas e remédios, conseguiu vencer as briosas revoluções que se lhe opuseram, derrotou valentes e destemidos e enclausurou-se nas salas de redação de rádios, televisões e jornais de quase todo o país, de onde expele os seus medrosos bafios, fazendo com que as novas gerações se tornem precocemente rançosas, individualistas e atemorizadas em relação a tudo o que possa sacudir o seu cultuado escrúpulo a quaisquer mudanças, entrem nas redes sociais em busca de pacíficas lições de vida e passem o tempo todo atrás dos prazeres receitados pela mídia senil e reacionária.”
Geral – O GOLPE ANUNCIADO E A TEORIA DO CAOS
Para maquiar o golpe e justificar a sua impureza usa-se a teoria do caos. Instalou-se em Curitiba uma espécie de Tribunal da Inquisição chefiado por um Grande Inquisidor que usa de todos os meios para amedrontar não só os políticos como qualquer cidadão brasileiro que não lhe agrade muito, utilizando meios que estão previstos em lei, mas claramente ditatoriais, como a prisão preventiva por tempo indeterminado, o que faz com que os inúmeros presos “confessem” tudo o que lhes for determinado, sob pena de apodrecerem na cadeia sem julgamento e sem culpa formada. Na verdade, é um tribunal que abriga em si o golpismo ao procurar deslegitimar a política e os políticos, provocando o caos institucional que favorece qualquer ação contra o governo, sob a desculpa de combater a corrupção. O povo está sendo manipulado pelos grandes meios de comunicação para aceitar e até apoiar o golpe anunciado, como se a troca de governo fosse resolver todos os problemas do país. A exemplo de 1964, e conforme disse Rubens Paiva no seu famoso discurso “O que se pretende é tornar este governo incompatibilizado com a opinião pública sob uma onda de mentiras e uma imagem deformada”. A grande diferença é que em 1964 o governo de João Goulart realmente estava fazendo grandes reformas estruturais que visavam uma pátria para os brasileiros e não somente para os latifundiários e empresários. Por isto, a direita entendeu necessário um golpe militar com o apoio da ameaça de invasão do exército estadunidense para a deposição de Jango. Agora, derrubar a assustada Dilma será uma questão meramente formal, que passará pelo Congresso e o Judiciário. A cumplicidade de Dilma Roussef com a direita, supostamente sob a pressão da mídia que a ameaça todos os dias, fazendo com que se torne uma presidente medrosa, amesquinhada, traindo todos os seus compromissos com o povo que nela votou é uma das maiores vergonhas que o país está assistindo. Dilma não só nomeou um ministério que não combate a suposta crise, mas a provoca com medidas recessivas e impopulares, como aceita covardemente que todo o projeto petista, ainda que meramente reformista (e timidamente reformista) seja destruído devido à sua covardia, ou, diriam os mais complacentes, à sua ingenuidade política.