![]() |
|
| | Login | | | Crie o seu Jornal Online FREE! |
|
Capa | Civilização | Criação | crítica literária | pensamento |
“A presença massiva da religião na cidade, uma aparente contradição, mostra bem como se constitui hoje o leque de possibilidades de sentido: a cidade não precisa mais de deus, mas, para aqueles que a própria cidade deserda e desampara, deuses de todo tipo e rito podem ser fartamente encontrados. A cada culto se agrega outro culto, até que se extravasem todas as formas de combinação capazes de responder à criatividade (…) que a cidade, em todas as esferas, incentiva, premia e dela se alimenta”
Reginaldo Prandi[1]
Este ensaio não é devocional, mas crítico. Para tanto me baseie no trabalho dos teóricos: Francisco Jean Carlos da Silva[2], Ricardo Mariano[3], Ronaldo de Almeida[4] e João Décio Passos[5].
O pentecostalismo surgiu com a ocorrência do “falar em línguas” em Topeka entre o século XIX e XX ou em Los Angeles em 1906. A cura divina, batismo do Espírito Santo, doutrina do pré-milenismo e a chama do “falar em línguas” constituíram as principais marcas deste movimento, sendo a última uma marca distintiva para promoção ardente de suas doutrinas.
Aqueles que aceitam Topeka como o momento fundante do moderno movimento pentecostal apontam Charles Fox Parham como seu fundador. Foi ele quem pela primeira vez elaborou uma definição teológica do pentecostalismo que sublinhava o vínculo entre “Falar em Línguas” e o batismo do Espírito Santo. “Falar em Línguas” seria a evidência inicial do batismo do Espírito Santo.
O pentecostalismo se instalou oficialmente no Brasil através das Igrejas: Congregação Cristã do Brasil e Assembléia de Deus. A primeira se instalou em solo brasileiro, em 1910, no bairro paulistano do Brás. A segunda em 1911, em Belém, no Pará. Essas igrejas foram trazidas dos Estados Unidos da América pelo italiano Luís Francescon e os suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren que aqui firmaram suas doutrinas. Mas, como vem ocorrendo esse movimento religioso no Brasil? E qual a relação desta, vamos dizer, ‘socialidade religiosa’ com o processo crescente de metropolização vivido no Brasil?
O crescimento do pentecostalismo em vários lugares do Brasil evidenciou que esse movimento apresenta claras distinções de ordem doutrinária. Contudo, parece que, de modo genérico, o núcleo duro do pentecostalismo fundante permaneceu sem sofrer grandes alterações até o final dos anos 50 e início dos 60, do século XX, quando surge no cenário uma segunda onda, constituindo um movimento de renovação carismática. Depois, uma terceira onda iniciada nos anos 1980, que é conhecida como a corrente de renovação da igreja.
Segundo Mariano, “com base na discussão das tipologias recentes, a classificação do pentecostalismo tem três vertentes: pentecostalismo clássico, deuteropentecostalismo e neopentecostalismo.”
E o que caracteriza o pentecostalismo clássico? O pentecostalismo clássico é um termo adotado para transmitir a idéia de antigüidade ou pioneirismo histórico desse movimento. Assim, a Congregação Cristã no Brasil e Assembléia de Deus podem receber essa nomenclatura. As práticas do pentecostalismo clássico caracterizam-se por enfatizar o dom de línguas, a crença na volta iminente de Cristo, a salvação paradisíaca e pelo comportamento de radical sectarismo e asceticismo de rejeição do mundo exterior. Além disso, seus adeptos eram de classes menos favorecidas, rejeitados pelos protestantes históricos e perseguidos pela Igreja Católica.
E o Deuteropentecostalismo? O deuteropentecostalismo é a segunda fase do pentecostalismo brasileiro, iniciada no final dos anos 50 e início dos 60, do século passado, caracterizando-se pela inclusão de igrejas carismáticas independentes que aceitam os dons do Espírito Santo como válidos para os dias atuais, porém, são igrejas que permanecem em suas denominações, como: Igreja Quadrangular(1951), Brasil para Cristo (1955) e Deus é Amor (1962).
Sob a influência dos missionários e ex-atores de filmes de faroeste do cinema americano, Harold Williams e Raymond Boatright a segunda onda ganhou uma ênfase diferenciada do pentecostalismo clássico, agora, a bola de vez teológica era o dom de cura divina, prática que teve proporções continentais, provocando uma explosão numérica pentecostal em diversas partes do mundo.
Apesar de a primeira onda enfatizar o dom de línguas e a segunda, a de cura, “o núcleo doutrinário permanece inalterado em qualquer das ramificações pentecostais.”
E em que medida o neo-pentecostalismo é continuação ou ruptura com as fases anteriores? O neopentecostalismo ou pós-pentecostalismo é um termo adotado para distinguir a nova roupagem que o pentecostalismo brasileiro vem desenvolvendo desde a segunda metade dos anos 1970, que cresceu e se fortaleceu nos anos 1980 e 90. A Igreja Nova Vida, fundada em 1960, no Rio de Janeiro, pelo missionário canadense Robert McAlister, foi o palco inicial que fez nascer as maiores representatividades desse movimento, através das igrejas: Universal do Reino de Edir Macedo (1977), Internacional da Graça de Deus (1980), Cristo Vive(1986), Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (1976), Comunidade da Graça (1979), Renascer em Cristo (1986) e Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo (1994).
E o que caracterizaria essa nova e derradeira fase? O distanciamento substancial do pentecostalismo aconteceu devido à ênfase do pós-pentecostalismo pautar-se na guerra espiritual contra o diabo e seus demônios, a teologia da prosperidade que tem ligação direta com a teologia do pós-milenismo, antagônico da doutrina milenarista dos pentecostais e a eliminação dos sinais externos de santidade. A trilogia diabo, prosperidade-cura e anti-asceticismo sinalizam um novo paradigma na estrutura do pentecostalismo de terceira onda. E sem falar que esta terceira onda se organiza sempre de forma empresarial.
Estes fenômenos teológicos têm nítida ligação com o processo de metropolização do Brasil. As pessoas saídas da zona rural e que perderam seus vínculos comunitários originais ao chegar na metrópole, reinventam nestas igrejas os antigos laços comunitários perdidos. Assim os pentecostais buscam fortalecerem-se entre si, em meio a cenários de extrema pobreza material, política e violência urbana. É desta forma uma reação ao endurecimento da vida nas cidades grandes e uma crítica à secularização da modernidade.
[1] PRANDI, Reginaldo. “As religiões, a cidade e o mundo”. In: A. F. PIERUCCI-R. PRANDI, A realidade social das religiões no Brasil, p.28.
[2]SILVA, Francisco Jean Carlos da. Pentecostalismo e Pós- Pentecostalismo – In: Revista Eletrônica Inter-Legere. Número 2 – julho a dezembro de 2007, pp- 1-7.
[3]O pentecostalimo no Brasil, cem anos depois. Uma religião dos pobres
Entrevista com Ricardo Mariano – In: CADERNOS IHU EM FORMAÇÃO Ano VIII Nº43 2012, pp-98-102
[4]ALMEIDA, Ronaldo de. Os Pentecostais Serão Maioria no Brasil? – In: REVER Revista de Estudos da Religião dezembro / 2008 / pp. 48-58
[5] PASSOS, João Décio.Pentecostalismo e Modernidade: Conceitos Sociológicos e Religião Popular Metropolitana – In: s/d, Mimeo. pp- 2-13
Capa | Civilização | Criação | crítica literária | pensamento |
Busca em | |
355 Notícias |