
LIVRO AFRODESCENDENTE
CANTO A OMOLU
Poema louvor ao orixá das epidemias
CANTO A OMOLU
Como Moisés quero pestes
e tempestades de gafanhotos
Quero caveiras
e corpos mofinos
a ira com inimigos
os faz necróticos
Sou o senhor dos cemitérios
Tenho por leito o frio granítico das lajes
e amo as estátuas de mármore
Sou rancoroso
e rabugento como minha mãe
mas sou prestativo
como um cão sarnento
Canto a Olorum
Poema-louvor a Olorum, o deus supremo na cultura yorubá
CANTO A OLORUM
Evocar o Criador
que vive no céu e acima dele
em todas as partes e em parte alguma
Sua grandeza não cabe em templos, altares
ou ocas
e é tão pequeno que está no orvalho
Sua voz é o trovão
Seu afago é o vento
Dispôs os campos
Ergueu Montanhas
Criou os rios
Plantou o capim
A chuva cai
e amacia o dia
doce frescor
Ele é o Escultor
O que sopra
Traz as estações
O mais antigo
O que se encontra em todo o lado
O grande oceano cujo penteado é o horizonte
CANTO A IEMANJÁ
Poema-louvor a Iemanjá, senhora das águas e da maternidade.
CANTO A IEMANJÁ
Dos seios de Iemanjá
brotou rios para pescar
Do ventre de Iemanjá
nasceram todos os orixás
Vou mergulhar nas águas
profundas do mar
Suas tranças
são de algas
as algas verdes do mar
Vou lavar minh’alma
Iemanjá casou com Odudua
que na hora da lua
partiu para guerrear
Iemanjá pariu Orugã
O Senhor do Ar
No dia que a vê nua
Orugã quer namorar
Vou mergulhar nas águas
profundas do mar
Suas tranças
são de algas
as algas verdes do mar
Vou lavar minh’alma
Vou lhe reverenciar
com a pedra de Itá
bracelete de metal
e contas de cristal
é minha mãe Iemanjá
senhora das águas
Na calunga grande
estão seixos e conchas
corais e rochas
vou pular sete ondas
Vou mergulhar nas águas
profundas do mar
Suas tranças
são de algas
as algas verdes do mar
Vou lavar minh’alma
A oferenda anual
é de flor natural
colares, braceletes
tecidos, lenços de seda
perfumes, sabonetes
para minha mãe Iemanjá
odoyá! odoyá!
Canto a Oxum
Poema-louvor a Oxum, orixá do amor e das gestantes.
CANTO A OXUM
Os raios do sol
perfuram a cerração
em meio as árvores altaneiras
Próximo de uma palmeira
O rio corre cristalino
e cai na cachoeira
Negras se banham
nas águas claras
querendo ser parideiras
o instinto primitivo
as faz feiticeiras
Uma bela negra
farta de seios
e carnes
traz safiras, rubis
pulseiras, colares
È filha de Oxum
se olha no espelho
e borrifa perfumes
nos ares.
AS BELAS ARMAS
Poema afro-zen
Quero possuir machados, espadas, agulhas, sabres, punhais e tudo o mais.
Quero enfrentar os leões do dia-a-dia
sem entrar na agonia
de não ter como respirar.
Vou buscar nos orixás
a força para continuar.
AS FERRAMENTAS DO SENHOR DOS CEMITÉRIOS
Muitas são as ferramentas de Omolu
algumas parecem rimar com Urubú
ele proporciona prazer feroz para seu peru.
CANTO A OXÓSSI
O caçador de tanga verde
traz o arco e a flecha
na sua elegância de atleta
domina os espíritos da floresta
Ele sorve o mel
doce néctar
sua oferenda predileta
As folhas da mangueira
farfalham
cantando sua leveza
Os jatis zumbem sobre brancas flores
O guerreiro descança à sombra da Oiticica
O irapuã recolhe seu ferrão
O aracati traz a maresia de Janaína
A buriti recende seus olores
Ogum é seu irmão