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ELEGIA[1] PARA LEZADO
Ontem à noite comecei a bolar este poema fúnebre ouvindo o álbum ‘SUB’ – Coletânea prototípica do Movimento Punk brasileiro oitotentista produzido pelo desencarnado Redson Cólero no aplicativo Spotify. Mas como estava cansado e a música começou a me perturbar eu fui dormir às três horas da manhã. Retomei a elegia hoje à tarde ouvindo Beto Guedes, Paulinho Pedra Azul e o aplicativo fez-me ouvir os discos de MPB que Wilezado Ruas diz que curtia.
Mas agora retomando a digitação. Estou ouvindo os psicodelismos do canal Brazilian Nuggets – especializado na digitalização de compactos e vinis ratos de artistas brasileiros e roqueiros brasileiros da década de 1970.
Oi Lezado, como estão as coisas,
Aí no andar de cima?
Ou seria no andar de baixo?
Em qual estação de rádio
Tu te encontras agora?
Ondas curtas, ondas médias
Rádio amador.
Só em ti mentalizar
Consigo te visualizar
O Que comprovas:
Que ainda existes;
Pois ao te tematizar:
Tu és um ente.
Tu estás no aquém-além
O Kalango já foi lá
Mas voltou por causa
Do apoio dos brodis
Como o Adriano Muniz
– Ex-inimigo
Que após o desmaio,
A pancada
Levou Kalango para o hospital.
Kalango guarda lembranças confusas,
Desconexas do extra-corpóreo.
O qual ele, cético, atribui
A prosaica ´
Falta de oxigenação
No cérebro.
A despeito do seu ceticismo,
Kalango foi lá
Onde estão:
O punk mexicano
Esfaqueado
No Gigantão da Zé Bastos.
Dedé Podre,
Cléo Desnutrida
E agora Wilezado Ruas,
Ou o Lezado, o chapado.
Lezado tu és grande.
Fostes o primeiro
Historiador da Cena.
Ou seja,
Tu não és um Porra-Louca,
Um estopa.
Pois “Os Velhos Tempos”
É a tua boca.
E quando tu pegavas
Um violão
Tu cantavas
Feito um
Bardo
Todos os teus
Desabafos.
E os desabafos
Da tua geração.
Várias vezes
Conversávamos
No Infixo:
Sobre A Página
Do Relâmpago
Elétrico
De Beto Guedes.
O que mostras
Que tu
Não eras
Um Doidim.
Lesado, onde tu estás?
No baixo astral,
No umbral
Ou ainda
Lá no teu quarto?
Teu aneurisma
De infância
Se rompeu.
Morreu.
Se escafedeu.
Morreu a carcaça
Mas nunca a carapaça
Já que fostes
O primeiro punk
A assumistes
Que tu eras chegado
Numa boiolice.
E tua nem aí, Alice.
Tu podes ainda estar
No teu quarto
Sentindo o cheiro
Nauseabundo
Dos miasmas
De teu cadáver
Encontrado
Feito guabiru
Com o corpu nu.
Isto é normal, Lesado.
Nas primeiras semanas.
Mas depois tu
Vai começar
A se emancipar
A expandir
Tua consciência não-cerebral;
Não-cranial.
Vai adquirir conhecimento
Sobre o teu corpo espectral.
Vai poder viajar
No espaço-tempo einstianiano.
Aconselho a tu não
Perder muito tempo
Com teletransportes
Para a ‘Casa de Farinha’
No final da linha
Do Bom Jardim
Em 1987.
Pois se tu ficares lá:
Só verás jovens
Com experimentalismos
Orgânicos irresponsáveis
Em torno daquela ‘farinha’:
O brite.
No início tu não resistirás a
Brincar, pogar no Davis Clube
Em 78.
A imitar indígenas pogando
No Apache I e II clube
No Antônio Bezerra
Em 81.
Não percas muitas energias
Na curvatura do espaço
Voltando para rolês
No Mênfis,
No Kelps,
No Detroit.
E nem tente
Fazeres greves
No CREVE.
Na volte a rebobina
Do tempo
Para as picuinhas
Entre NCCL e NEAL
Pois sei
Que tu achou
Legal
Quando a galera
Se juntou
E Fez o ‘Show Beneficente’
Para o André Ceguinho
Fazer a cirurgia da vista
Em Cuba.
Lá na década de 1990
Na Casa do Estudante.
Pois “Comunicar-se é Preciso!”
Já dizia um cartaz antigo
Nos arquivos mofados
Do punk aposentado
Magoo.
Morreu a carcaça.
A pilha acabou,
Como diz o Kalango.
Mas tu Lesado
Não é uma Rayowack vagabunda.
Tu és:
LEGADO.
Charles Odevan Xavier
Poeta, artivista plástico, crítico de artes-plásticas, fotógrafo e cineasta.
[1] Na Literatura Grega antiga o termo “elegeia” (ἐλεγεία) originariamente referia-se a qualquer verso escrito em dístico elegíaco cobrindo uma vasta gama de assuntos, entre eles, os epitáfios para túmulos. A elegia na Literatura Latina foi mais erótico ou mitológico. Devido ao seu potencial estrutural para efeitos retóricos, o dístico elegíaco foi também utilizada pelos poetas gregos e romanos para assuntos espirituosos, engraçados e satíricos.
Modernamente, elegia é uma poesia de tom terno e triste. Geralmente é uma lamentação pelo falecimento de um personagem público ou um ser querido. Vale ressaltar que na elegia também há digressões moralizantes destinadas a ajudar ouvintes ou leitores a suportar momentos difíceis. Por extensão, designa toda reflexão poética sobre a morte:
a elegia, assim como a Ode, tem extensões variadas. O que as difere é que a elegia trata de acontecimentos infelizes
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