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flor futura
Desde: 04/11/2003      Publicadas: 68      Atualização: 28/11/2018

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 Criação

  28/11/2018
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ELEGIA PARA LEZADO

Tributo póstumo e fúnebre ao poeta e historiador punk Wilezado Ruas.

ELEGIA PARA LEZADO

ELEGIA[1] PARA LEZADO

 Ontem à noite comecei a bolar este poema fúnebre ouvindo o álbum ‘SUB’ – Coletânea prototípica do Movimento Punk brasileiro oitotentista produzido pelo desencarnado Redson Cólero no aplicativo Spotify. Mas como estava cansado e a música começou a me perturbar eu fui dormir às três horas da manhã. Retomei a elegia hoje à tarde ouvindo Beto Guedes, Paulinho Pedra Azul e o aplicativo fez-me ouvir os discos de MPB que Wilezado Ruas diz que curtia.

Mas agora retomando a digitação. Estou ouvindo os psicodelismos do canal Brazilian Nuggets – especializado na digitalização de compactos e vinis ratos de artistas brasileiros e roqueiros brasileiros da década de 1970.

 

Oi Lezado, como estão as coisas,

Aí no andar de cima?

Ou seria no andar de baixo?

Em qual estação de rádio

Tu te encontras agora?

Ondas curtas, ondas médias

Rádio amador.

 

Só em ti mentalizar

Consigo te visualizar

O Que comprovas:

Que ainda existes;

Pois ao te tematizar:

Tu és um ente.

 

Tu estás no aquém-além

O Kalango já foi lá

Mas voltou por causa

Do apoio dos brodis

Como o Adriano Muniz

– Ex-inimigo

Que após o desmaio,

A pancada

Levou Kalango para o hospital.

 

Kalango guarda lembranças confusas,

Desconexas do extra-corpóreo.

O qual ele, cético, atribui

A prosaica ´

Falta de oxigenação

No cérebro.

A despeito do seu ceticismo,

Kalango foi lá

Onde estão:

O punk mexicano

Esfaqueado

No Gigantão da Zé Bastos.

Dedé Podre,

Cléo Desnutrida

E agora Wilezado Ruas,

Ou o Lezado, o chapado.

 

Lezado tu és grande.

Fostes o primeiro

Historiador da Cena.

Ou seja,

Tu não és um Porra-Louca,

Um estopa.

Pois “Os Velhos Tempos”

É a tua boca.

 

E quando tu pegavas

Um violão

Tu cantavas

Feito um

Bardo

Todos os teus

Desabafos.

E os desabafos

Da tua geração.

 

Várias vezes

Conversávamos

No Infixo:

Sobre A Página

Do Relâmpago

Elétrico

De Beto Guedes.

 

O que mostras

Que tu

Não eras

Um Doidim.

 

Lesado, onde tu estás?

No baixo astral,

No umbral

Ou ainda

Lá no teu quarto?

 

Teu aneurisma

De infância

Se rompeu.

Morreu.

Se escafedeu.

 

Morreu a carcaça

Mas nunca a carapaça

Já que fostes

O primeiro punk

A assumistes

Que tu eras chegado

Numa boiolice.

 

E tua nem aí, Alice.

 

Tu podes ainda estar

No teu quarto

Sentindo o cheiro

Nauseabundo

Dos miasmas

De teu cadáver

Encontrado

Feito guabiru

Com o corpu nu.

 

Isto é normal, Lesado.

Nas primeiras semanas.

Mas depois tu

Vai começar

A se emancipar

A expandir

Tua consciência não-cerebral;

Não-cranial.

 

Vai adquirir conhecimento

Sobre o teu corpo espectral.

Vai poder viajar

No espaço-tempo einstianiano.

Aconselho a tu não

Perder muito tempo

Com teletransportes

Para a ‘Casa de Farinha’

No final da linha

Do Bom Jardim

Em 1987.

 

Pois se tu ficares lá:

Só verás jovens

Com experimentalismos

Orgânicos irresponsáveis

Em torno daquela ‘farinha’:

O brite.

 

No início tu não resistirás a

Brincar, pogar no Davis Clube

Em 78.

A imitar indígenas pogando

No Apache I e II clube

No Antônio Bezerra

Em 81.

Não percas muitas energias

Na curvatura do espaço

Voltando para rolês

No Mênfis,

No Kelps,

No Detroit.

E nem tente

Fazeres greves

No CREVE.

 

Na volte a rebobina

Do tempo

Para as picuinhas

Entre NCCL e NEAL

Pois sei

Que tu achou

Legal

Quando a galera

Se juntou

E Fez o ‘Show Beneficente’

Para o André Ceguinho

Fazer a cirurgia da vista

Em Cuba.

Lá na década de 1990

Na Casa do Estudante.

 

Pois “Comunicar-se é Preciso!”

Já dizia um cartaz antigo

Nos arquivos mofados

Do punk aposentado

Magoo.

 

Morreu a carcaça.

A pilha acabou,

Como diz o Kalango.

Mas tu Lesado

Não é uma Rayowack vagabunda.

Tu és:

LEGADO.

 

Charles Odevan Xavier

 

Poeta, artivista plástico, crítico de artes-plásticas, fotógrafo e cineasta.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[1] Na Literatura Grega antiga o termo “elegeia” (ἐλεγεία) originariamente referia-se a qualquer verso escrito em dístico elegíaco cobrindo uma vasta gama de assuntos, entre eles, os epitáfios para túmulos. A elegia na Literatura Latina foi mais erótico ou mitológico. Devido ao seu potencial estrutural para efeitos retóricos, o dístico elegíaco foi também utilizada pelos poetas gregos e romanos para assuntos espirituosos, engraçados e satíricos.

Modernamente, elegia é uma poesia de tom terno e triste. Geralmente é uma lamentação pelo falecimento de um personagem público ou um ser querido. Vale ressaltar que na elegia também há digressões moralizantes destinadas a ajudar ouvintes ou leitores a suportar momentos difíceis. Por extensão, designa toda reflexão poética sobre a morte:
a elegia, assim como a Ode, tem extensões variadas. O que as difere é que a elegia trata de acontecimentos infelizes

 

 



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